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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Só...

Ela estava só!

O cabelo desgrenhado, olheiras fundas, negras, dentes podres e amarelos do cigarro que lhe pendia dos dedos magros e escanzelados, a roupa velha e gasta, a pele sem brilho.Há muito que não tinha ninguém que lhe mostrasse carinho, respeito. Não se lembra de quando foi a última vez que um homem lhe tocou com desejo, que lhe acariciou as carnes com tesão. Serão meses, anos???...

Agora tirando os broches que faz a velhos sebentos a troco de míseros euros ("Chupa aí, sua puta, dizem eles, vou-te esporrar essa tromba toda), está só.

Não tem ninguém: nem filhos, pais, irmãos, amigos. Ninguém...

Por vezes vêm-lhe à memória o tempo em que acompanhava homens de negócios, políticos, em viagens pelo mundo, bons hoteis, boa comida, joias, dinheiro muito dinheiro por noites de prazer ou de confidências sem fim. Tem saudades desse tempo em que era tratada com respeito, admirada pela sua beleza exótica e fodida como deve ser, por homens que não tinham em casa ou não tinham coragem de ser com as esposas como eram com ela. E alguns eram mesmo bons, sabiam com deixá-la louca de tesão por eles. Esses ela aceitava acompanhar mais vezes, juntava o útil, muitos euros, com o prazer de ter orgasmos fabulosos. Dele é que se lembra sempre...

Agora está só, o peso da solidão é tanto que oprime, parece que a aperta contra o sofá no canto da divisão onde vive e que lhe serve de quarto, sala, casa de banho, cozinha...

Na TV a preto e branco que encontrou abandonada no lixo, vê-o, algumas vezes em debates. Nunca casou, continua sozinho.

Quando o vê, o coração bate novamente descompassado, sente um friozinho na barriga, sabe que não é a fome a apertar, e lá em baixo a vagina que até se esquece que existe, dá sinais de vida: fica quente, latejante, húmida, como quando estava com ele e sabia que ía sentir o seu membro teso, duro, cabeçorra grossa a penetrá-la devagar como se quizesse sentir cada pedaço das suas entranhas, os braços apertando-a contra si..."Gosto de ti, dizia ele, Muito" e comia-a vezes sem fim até ficarem ambos esgotados e adormecerem nas madrugadas do Mundo...

Sente uma lágrima a cair e outra e mais outra se seguem, para ela a vida ficou para trás, agora apenas sente as horas passar e os dias, os meses, os anos a esvair-se-lhe por entre os dedos, à espera que a vida se esgote.

Talvez se não ligar a TV, não o veja e o coração se canse de bater...Para Sempre!

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